quinta-feira, 30 de outubro de 2008

ROCK NA FILIAL DO INFERNO!

Por Zerbinato
O recadinho do coração veio em forma de e-mail, mas se estivéssemos numa redação, isso certamente seria um post-it grudado na minha mesa...


... E assim começa oficialmente minha incursão no cenário independente do rock e suas vertentes em Palmas, capital do estado do Tocantins. Mas antes de falarmos do cenário alternativo em questão, é importante ter umas informações básicas sobre o lugar em que me encontro.

A se saber, Palmas é um lugar quente, muito quente (por isso é docemente chamada de Filial do Inferno), onde a temperatura média varia entre 35º e 40º. Cenário envolto por praias de água doce, uma serra de mata ciliar e alguns dos rios mais importantes do país. Cidade bem nova, com apenas 19 anos de existência, e atualmente uma população de 184.000 habitantes, surgiu na época da separação do Tocantins e Goiás. Musicalmente falando, em geral o que se ouve por aqui é forró, axé, sertanejo e todos os seus derivados.

Mas os meus três meses de morada por aqui, já me fizeram perceber um bom cenário da música independente, já memorizando algumas bandas e acontecimentos. Infelizmente não tenho tido muito tempo para acompanhar esse cenário de perto, mas recentemente rolou por aqui um campeonato de skate, promovido por uma loja local e no evento tive a oportunidade de ver em ação as bandas Críticos Loucos e Mata-Burro. De uma forma geral, gostei muito do evento, tanto do campeonato (iniciante e amador) que mostrou alguns atletas de alto nível, como a apresentação das bandas.

Portanto queridos, nada mais justo do que, invés de eu simplesmente falar o que penso sobre uma cena que nem conheço profundamente, preferi conversar com pessoas que fazem as coisas acontecerem por aqui. E são dessas pessoas essa panorâmica que vos trago nessas despretensiosas linhas:

Em uma curta conversa com André Donzelli (mais conhecido como "Porkão"), fiquei sabendo um pouco mais sobre o que acontece de fato por aqui. Porkão, além de ser vocalista da A Baba de Mumm Ra, é também proprietário da TENDENCIES ROCK BAR.
Sobre a sua banda, Porkão sintetiza com tranqüilidade:

“Bixo, é som pra se divertir, auto intitulamos PROFANO BODE CORE, já chamaram de BLACK METAL BREGA, sei que faço o que gosto e não to nem aí, saio de um grind fudido e entro em um SKA e to feliz.”

Sobre a TENDENCIES ROCK BAR, uma junção de loja de rock, bar e casa de shows, que já existe (e resiste) há dois anos e acaba abrigando mais da metade dos eventos da região e naturalmente se tornou referência para a música independente aqui em Palmas, Porkão conta que nem tudo não são flores e que apesar dos descontentamentos e dos prejuízos, se esforça para manter o espaço aberto e se queixa da falta de apoio das esferas políticas em relação a cultura alternativa. Mais sobre o Porkão e sua história por aqui virá em uma entrevista muito em breve.

Em uma outra breve conversa, Bento (Fotógrafo, baixista da banda MATA-BURRO e produtor do BURRADA FESTIVAL) comenta rapidamente sobre a cena local, destacando as bandas mais ativas da capital tocantinense: CRÍTICOS LOUCOS, BODDAH DICIRO, MEU XAMPU FEDE e CORELL (Além é claro da Mata-Burro).

Bento ressalta ainda que em Araguaína, interior do estado, está rolando eventos quase mensais, sempre encabeçados pela banda TERRITORIAL. Além desta, destacam-se outras bandas do interior do estado: Nose Blend, Mucosa Anal, Poetas do Caos e Meros-Berros. Bento cita também alguns festivais importantes para a manutenção na cena local, são eles: Tendencies Rock Festival, T.O.M.E (Tocantins Música Expressa) e o PMW Rock Festival. Na cidade de Miracema tem o Agosto de Rock, assim formam os 4 maiores do Estado.

Pois bem, penso que para aquecer, essa é uma boa panorâmica do que acontece por aqui, a partir das próximas postagens, tentarei trazer à vocês mais novidades sobre o rock na terra do sol eterno!

Beijos, abraços e apertos de mão!!!!!!

Zerbinato

terça-feira, 28 de outubro de 2008

PROPAGANDO




Segunda-feira – Reunião de publicitários.


Flávio Grão

- Bem, pessoal, aqui está a foto do Adventure, vocês já sabem o que o cliente quer: Criar um link entre o carro, a ecologia e a liberdade. Não podemos perder o foco no nicho e no público alvo. Júnior, vai anotando no quadro as palavras. Vamos fazer um “brain-storm”, depois veremos como sai. Vai eu começo:
-Natureza!
-Cachoeira?
-Ecologia!
-Liberdade!
-Bob Marley?
-Bob Marley, Seu Carlos?
-É Júnior, estagiário não pergunta, faz! Anota aí no quadro!
-Carro na cachoeira!
-Òtimo Tiago, ótimo!
-Ecologia!
-Nunes, essa já foi dita!
-Então, animais!
-Animais em extinção!
-Animais grandes e ameaçadores!
-Quatro por quatro!
-Leão!
-Mico leão dourado!
-Hipopótamo na cachoeira!
-Puts, hipopótamo na cachoeira é foda héim? Mas anota aí Júnior...
-Crocodilo!
-Puta, tá parecendo jogo do bicho, mas beleza.
-Pronto, pronto, tá certo, já tem palavras e idéias demais. Vamos por em ordem agora, tentar montar o comercial.
-Deixa eu montar! Já tive uma idéia Seu Carlos, me deixa vai...
-Tudo bem, Tiago, vou deixar porque você tem tino para essas coisas!
-Bem, é assim ó ! O cara vai com o carro e entra numa cachoeira. O carro pára e começa a patinar...
-Prossiga Tiago...
- Daí ele abre a porta e vê um crocodilo. Olha para outro lado vê um leão, e... e... em cima do capô aparece um mico leão dourado!
-Mas, eles não fazem parte da mesma fauna!
-Cala a boca Júnior, já não falei que estagiário é só para anotar, você pensa que todo mundo perde o final de semana assistindo Animal Planet feito você? Oras...
-Tá...
-Daí o motorista se sente com medo e... e.. e então o Mico leão começa a cantar Bob Marley!
-Redemption Song! Tem a ver com liberdade...
-Não, não.... Ah, pode ser aquela que tem no desenho, a do passarinho...“Don´t worry, about the things...”
-Um interessante...
-Aí ele liga a tração do carro e sai tranqüilo ao som do Bob...
-É Tiago, você só me impressiona. Um dia você ainda chega em Cannes...

COMEÇOU A MOSTRA BITS

A Mostra "Bits – Olhar Sonoro" começou ontem (27/10), como nós já havíamos anunciado aqui. Pensando naquelas pessoas que não moram em São Paulo (como eu) e mesmo nas pessoas que moram, mas não puderam ir à exposição, decidimos fazer uma espécie de cobertura fotográfica do evento. Abaixo você pode conferir um pouco de como foi a noite de abertura da exposição e alguns frames do pocket show de Rob Mazurek e convidados (leia-se Hurtmold). As fotos são de Denilson Takeda.
Lembrando que na quarta-feira, 29/10, os "zínicos" Marcelo Viegas, Flávio Grão e Edu Zambetti participarão do debate sobre fanzines: "Zinismo - Memórias, Análises e Novos Caminhos".
Confira as fotos e nem pense em faltar nesse debate de quarta!
Luz!











DISCURSO DO EXCLUÍDO?



Por Edu Zambetti



Outro dia estava navegando neste acelerado mundo virtual, lendo sobre fanzines, demo-tapes, mainstream e cultura alternativa como um todo. O motivo era o de fazer uma preparação para o debate dentro do evento “BIT – Olhar Sonoro” para o qual eu, Grão e Viegas fomos convidados. Em quase todos os textos, alguns mais acadêmicos do que outros, me deparei com uma lógica que pode (ou deve) ser, no mínimo, questionada.

É claro que a maioria destes artigos traz ótimas informações ou apontam para fatos muito interessantes dentro deste universo em questão, mas uma palavra bem específica fez com que eu estivesse aqui neste momento, digitando estas palavras...

Excluído!
Poderia dizer que este termo reverberou de forma constante em minha mente nestes últimos dias.


Quem faz arte de qualquer vertente, dentro do mundo alternativo (indie, underground), parece corriqueiramente ser percebido como o indivíduo que excluído da mídia padrão (comercial) ou excluído do circuito cultural padrão, acaba gerando, construindo seu próprio circuito, seu próprio canal de expressão de maneira absolutamente primorosa. Lendo a frase assim, sem pensar muito, parece que a afirmação é coerente, mas uma forma um pouco mais precisa de descrição da realidade merece ser elaborada numa primeira discussão seguindo as sugestões sintetizadas a seguir:


No mundo do consumo, os formatos de arte amplamente divulgados pela mídia óbvia (canais de tv, jornais, rádios, revistas, etc) trazem sua linguagem específica e tem seu modelo de registro baseados em moldes comerciais (mesmo em se tratando de uma banda de rock, por exemplo), pasteurizados, adequados para esta caixa de divulgação para as massas. De forma bem simplificada, fica fácil de perceber que o resultado final revela mais um produto a ser comercializado do que arte (como estética positivante) propriamente dita, porém, isto não significa que a qualidade do trabalho realizado dentro deste grupo é extremamente bom ou extremamente ruim. Vale lembrar que o trabalho artístico pode ser melhor ou pior, convenhamos que, embora estes sejam termos relativos, há sempre um consenso dentro disto (o som de um violão afinado é sempre mais agradável do que o de um ruído de motor), independente de estar inserido nesta mídia padrão e ser caracterizado como produto, ou não. O foco aqui esta muito mais na questão do espaço de divulgação do que na qualidade do que é produzido.


No circuito alternativo, fanzineiros, músicos, artistas plásticos, escritores, atores, cineastas estão por todos os cantos produzindo, criando, despejando sua forma de expressão laboratorial nos mais diversos formatos e ousando das mais diversas formas. Se existe regra ditada para todo este grupo, teoricamente ela é única: Tente não seguir regras!

Neste sentido, produzir um fanzine, por exemplo, não significa que por traz de sua produção exista um jornalista excluído da mídia que irá divulgar trabalhos de artistas plásticos excluídos do circuito cultural, resenhar apenas material de músicos excluídos das grandes gravadoras, aceitar textos apenas de escritores excluídos das editoras comerciais e ainda, que apenas os excluídos terão acesso a ele. Ainda no exemplo, produzir o tal Fanzine significa muito mais optar por este formato, optar por esta linguagem, optar por este público. Optar... Escolher... Querer trabalhar dentro deste universo de criação “livre”, praticamente sem barreiras e, é claro, sem vínculos comerciais evidentes.


Quase sempre, dentro deste grupo, novas linguagens artísticas vêm à tona e até velhas formas são resgatadas, recicladas, tudo com recursos corriqueiramente diferenciados do padrão comercial. Muitas vezes a falta de recursos (não por impossibilidade, mas por opção imediata) faz com que o resultado final se revele inédito, e isto não é por exclusão dos recursos padronizados e sim pela escolha do formato que esta à mão. Exemplificando, fotografar com a imprecisão de uma máquina analógica velha pode trazer resultados surpreendentes tanto para quem fotografa quanto para quem aprecia a imagem após sua revelação. Gravar a própria banda usando softwares livres ou gravadores K7 multipistas pode, ao invés de trazer um resultado ruim, resgatar uma sonoridade há muito tempo abandonada pelos produtores musicais da moda, ou ainda, resultar numa sonoridade criativamente diferenciada do padrão em voga, voltando as atenções do público para tal trabalho e gerando uma série de seguidores...

A questão é criar um próprio padrão artístico baseado em soluções diferenciadas das seguidas pelos inseridos no circuito comercial.

Acontece que estas soluções acabam, num paradoxo, por um lado servindo de nova referência para a mídia normal (comercial) e, por outro lado, se contaminando por esta mesma mídia. Uns criam colunas cada vez mais sólidas dentro do universo alternativo para que seu papel se torne mais relevante dentro da cultura, paralelamente, outros acabam almejando adentrarem naquela grande mídia, como se a cultura alternativa fosse apenas um degrau abaixo do que se vê e se vende para as massas, sendo que a realidade, de certa maneira, é o oposto disto. De qualquer forma, só o último dos dois pode parecer excluído, mesmo assim, não em sua totalidade. O primeiro “é alternativo” e o outro (na sua própria visão) apenas “está alternativo”, mas isto não significa que este último queira se inserir nos padrões comerciais sem questioná-los, significa também que ele quer, para o bem e para o mal, ter seu padrão alternativo inserido lá. Então vem o dilema:

Positivamente é animador pensar em um padrão estético (pictórico, sonoro, gestual, textual) novo ou renovado sendo aceito e distribuído por uma grande corporação, assim, tal alternatividade poderia se espalhar para as massas e ter uma influência mais marcante dado a experiência de apreciação coletiva proporcionada. Negativamente, este padrão contestador de formatos ao ser absorvido por esta indústria da consciência deixa de ser alternativo e revela pelo menos um véu da sua triste fragilidade: O alternativo é conteúdo latente do mainstream. Isto não é o mesmo que dizer que não existe mais separação da cultura padrão e da a tal contra cultura, significa muito mais que na formatação econômica e social dominante e caduca, qualquer manifestação artística e cultural diferenciada está e sempre esteve prestes a virar produto comercial.   

Sobre esta coisa de excluído, parece ser melhor inverter o vetor de raciocínio: Aquele alternativo que chegou ao “nirvana” dos grandes conglomerados midiáticos agora é da turma dos iguais, dos sustentáculos da máquina conservadora, mesmo com padrões estéticos diferenciados num curto prazo (num longo prazo o diferente se torna normal-normalizado). O que não foi abraçado pela indústria cultural segue com o grande mérito da negação do padrão midiático e construindo com seus mérios e ao seu tempo o seu circuito, um pouco mais livre e com diferenciação estética com possível  longevidade. Aqueles que estavam alternativos esperando um lugar no mainstream provavelmente sucumbem ao não serem abraçados pelas tais corporações negativantes.

Faz alguns anos escrevi em um texto para outro site apontando que isto “se trata de cultura alternativa porque não veio à tona para a maioria dos indivíduos que ‘consomem’ música e comportamento, porque é de conhecimento de milhares, mas talvez não de milhões de pessoas”. Esta cultura alternativa não pode ser vista como uma opção dos excluídos, pois não é a realidade. Tem que ser encarada, principalmente por quem a constrói, como uma possibilidade de nova referência cultural, independente e em estado de negação em relação à outra. Não é pequena nem secundária (visão dos que almejam a outra como patamar) é um dos motores desenferrujados da cultura e mantém a possibilidade de mobilização positivante e da evolução dos entendimentos humanos. A maneira e o caminho para chegar até este ponto é trabalho para outros longos parágrafos.


Alguém se habilita?

domingo, 26 de outubro de 2008

UMA PERGUNTA PARA RODRIGO BRANDÃO


Por Marcelo Viegas

Conversar com gente focada é outra coisa. Basta uma pergunta para render uma pauta. Essa aqui, por exemplo, surgiu exatamente assim: papeando com o Rodrigo Brandão, do Mamelo Sound System, não precisei mais do que uma indagação pra gerar conteúdo pro Zinismo e, ainda mais importante, fornecer um rápido update das atividades no front do Mamelo.

ZINISMO: Rodrigo, quais as novidades do Mamelo e dos seus outros projetos?

RODRIGO: Atualmente estamos trampando num EP solo da Lurdez Da Luz. Porque a real é que o Scotty Hard, que produziu o “Velha-Guarda 22”, sofreu um acidente de carro feio em fevereiro, com grandes chances de ficar paraplégico, e quando visitei o bicho, em março, ele me pediu pra esperá-lo pra gente fazer outro disco do Mamelo. E eu trinquei.

Na volta, conversando com a Lurdez, vi que ela tava com algumas letras bem pessoais, de um universo especificamente feminino, mas que até caberiam participações minhas em uma ou outra faixa também. Daí ficou claro que esse é o caminho pra continuar seguindo a vida enquanto o Scotty se recupera.

Fora isso, ela tem feito bastante show participando com o 3namassa, eu com o Contra-Fluxo, e ambos com o Elo Da Corrente. Também temos feito alguns shows do MSS, quando pinta alguma oportunidade bacana - tipo o Calango Festival em Cuiabá - e dia 07/11 estamos voando pra Espanha, pra tocar num evento chamado Brasil NoAr, com possibilidade de um ou outro show extra.

Tá pra sair em breve uma coletânea da Zulu Nation, com uma faixa nossa produzida pelo Fábio (Parteum). E também gravamos um som pro disco de um figura de Baltimore, chamado Spectre, de um selo maluco de nome Word Sound. A faixa chama “Vai Na Fé” e deve sair mês que vem lá fora.

Abração,

R.


Mais Mamelo: http://www.myspace.com/mamelosoundsystem


sábado, 25 de outubro de 2008

MOSTRA “BITS - OLHAR SONORO” COMEÇA DIA 27 EM SÃO PAULO


Uma das telas mais recentes do ilustrador e zínico de plantão, Flavio Grão - Congestão (30x40cm) - Acrílico sobre tela

Começa nessa segunda-feira a mostra “Bits - Olhar Sonoro” na Coletivo Galeria em São Paulo.
A Bits terá uma programação variada, que inclui uma mostra de artes visuais, pocket shows e workshops. A idéia é levar o público a explorar a relação entre música e artes visuais e descobrir a produção variada dos artistas que representam a vanguarda no cenário musical paulistano.

A mostra de artes visuais da Bits conta com uma vídeoinstalação de Rob Mazurek (músico norte-americano que já participou de projetos com membros de bandas importantes como Tortoise e Isotope e o trompetista Bill Dixon), além de sua coleção de pinturas abstratas.
Mario de Mario, pseudônimo de Mario Cappi, guitarrista da banda Hurtmold expõe pinturas em óleo sobre tela.
Danielone, vocalista da banda Presto? e Flávio Grão (Zinismo) apresentarão ilustrações e pinturas de suas autorias.
O músico Kiko Dinucci e a designer Paula Bernardes, que assina cartazes em baladinhas roqueiras do CB Bar, levarão à BITS parte de suas coleções de gravuras; e completando o elenco da mostra, o fotógrafo Jozzu exibe parte do acervo que reuniu ao longo de mais de uma década em que acompanha a cena musical independente de São Paulo.

Entre os shows o destaque fica para o show/instalação de Mauricio Takara e Luciano Valerio que apresentam "Variações da Luz que Toca” onde a música gera imagens projetadas utilizando meios pouco convencionais e diversos, como cortinas, computadores e espelhos.

O jornalista Marcelo Viegas (redator da revista Cemporcento Skate), o artista plástico Flávio Grão e o cientista social Edu Zambetti (da banda Sapo Banjo)- parte da gang por trás do Zinismo - prepararam uma palestra para falar sobre suas experiências com a produção de fanzines nos anos 90 e início deste século. E pelas postagens temáticas que passaram por aqui nessa última semana, deu pra ver que conhecimento de causa não falta!

Confira a programação completa abaixo:

Serviço:
BITS – Olhar Sonoro
De 27 a 31 de outubro

Coletivo Galeria
Rua dos Pinheiros, 493
Terça à sexta das 15h às 23h.
Entrada Franca
Abertura e coquetel: 27 de outubro, segunda-feira, às 20h.

PROGRAMAÇÃO:

27/10 - segunda - 20h - coquetel de abertura + pocket show com Rob Mazurek e convidados
28/10 - terça – 20h30 – pocket show com M.Takara – Variações da Luz que Toca
29/10 - quarta - 18h30- Debate sobre Fanzines "Zinismo - Memórias, Análises e Novos Caminhos" com Marcelo Viegas, Flávio Grão e Edu Zambetti (20 vagas) e 20h30 – discotecagem Kamau
30/10 - quinta - 18h30 – workshop sobre Spoken Word e Rap com Akin (20 vagas) e 20h30 - show "Akin: Robôs não constroem sonhos”
31/10 - sexta - 20h00 - workshop produção musical com Parteum e discotecagem com DJ Suissac.

As inscrições para os workshops podem ser feitas até o dia 27/10 através do endereço eletrônico bits@jamstudio.tv

Uma realização da JAMSTUDIO e Barbara Xavier.


Não dá pra perder!!!

Luz!

ZINISMO NO ORKUT!



Na noite de quinta feira, fomos surpreendidos pelo leitor/zineiro/dono de selo/distribuidora/ilustrador e dono de um carrão pimpado, Felipe Eterno (Ideal Shop), quando o mesmo nos enviou o endereço da comunidade Zinismo, criada por ele no Orkut!
Já deu pra ver que tem louco pra tudo mesmo!
Então, se esse também é seu caso, participa da comuna lá!

Comunidade Zinismo no Orkut

Valeu Xilipi!

Luz!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

ATÉ MESMO UMA GORDÓTICA...




Sempre gostei mais de fanzines que falassem sobre bandas. Sem muitos rodeios. Meus olhos iam de encontro direto à parte de resenha de discos, de entrevistas de bandas, resenhas de shows e por aí vai. Ao longo dos meus anos- fazendo-me homem e não apenas envelhecendo, na sina de ir à galeria para pegar qualquer zine simples de apenas uma folha A4 dobrada com um A circulado ou os mais elaborados com panca de tablóide informativo musical. Até os dias de hoje, qual no momento não sobra tempo para isso.

Todavia, o que fosse zine, tinha como destino um lugarzinho apertado na minha mochila. Desde aqueles zines viajandassos, que de cara tu imagina que foi escrito por alguma górdica (gorda-gótica) ou aqueles de méeeetal farofassos, que só faltam espirrar dragões alados e histórias de espadas encantadas. E durante o percursso de volta para casa, lia no busão, todas aquelas informações trepidando-se, tornando-se turvas, e até mesmo saltitantes conforme as rodas do terrível ônibus que sai do Pq. Dom Pedro sentido casa dos meus pais na zona leste divisa com ABC.

Eu lembro que um dos mais fodas na minha época de colecionadorzinho de zines, era o Anti-Midia. Incialmente o zine tinha uma cara de jornal mesmo, depois foi adquirindo um perfinal mais tablóide com os anos. Até acabar. Tinha o grande senhor Nenê Altro como editor/produtor. E como vivemos o céu do underground em fragmento. Aquele mesmo que se filhodaputasse voasse não veríamos o céu nunca, huh? Inclusive nós mesmos teríamos asas! Eis que havia uma série de lendas sobre o zine. Uma das mais engraçadas é que dizem que o próprio editor escrevia as cartas mal educadassas, que era uma parada bem irada de se ler com respostas geniais. E se for isso mesmo? Nossa como pode né? Ai credo?! Foda-se, o zine é do cara, ele faz o que quiser. Engana quem quiser, todo mundo é uma FARSA mesmo!!!!

Okay, okay!!! Voltando a falar de zines... Então, o Anti-Mídia tinha um projeto meio subliminar, entrevistas com bandas clássicas do punk/hardcore nacional que um dia faria parte de um livro que registraria a cena punk nacional. Esse dia, huh? Chega? Suspense!!! Nunca esqueço da entrevista com RATOS DE PORÃO – uma das minhas bandas preferidas ao lado de Bad Brains e Ramones. Todo aquele linguajar tosco, aquelas perguntas bem elaboradas, aquele clima de brodage e malandrage punk. Essas coisas lhe dizem algo quando você é um moleque que cola em shows de hardcore. É o que te molda e diz; " A vida não é só nascer, trabalhar e morrer." Existe um intervalo valioso.

Lembro-me também de entrevistas com Garotos Podres, Olho Seco, Mukeka di Rato, o diabo à quatroe por aí vai. Foi no Anti-Midia que descobri uma das bandas mais importantes do hardcore nacional nos anos 90. Againe. E acredito que grande parte daquela geração que colava aos mesmos shows que eu. Eis que um dia peguei o zine Contravenção, que tinha o formato idêntico ao da Maximum Rock'N Roll. Não me lembro agora quem publicava. Andei fumando hoje. Zine fodido!!! Não importa se era versão tupiniquim da lendária MRR. O que importa é que era mais um zine ali. Para somar. Se bem que tinha que pagar e tal, não tinha o mesmo charme do Anti-Midia, que era de graça, mas, porra, foda-se, pois, eram três cruzeiros bem investidos. Interessei-me por literatura lendo Contravenção, era único zine que não curtia apenas as paradas sobre bandas. E o top-10 logo de cara, ajudava bastante a procurar bons filmes, livros, lugares para ir, blogs para ler – inclusive a página pessoal do nosso mestre da luz, Flávio Grão, esteve lá no ranking certa vez.

Com o tempo fui adquirindo bastante zines gringos, meu inglês era de 5 ª série de colégio público, mas, com o tempo fui melhorando, e conseguia ler algumas publicações. Todavia, não vou falar de zines gringos aqui. Aliás, certa vez escrevi uma parada total relaxo podre para a MRR, e o Chris teva a manha de deixar sair na edição de 25 anos da parada. Que merda (hehehehe)!!! E justamente numa Vans Tour, o Wlad pediu emprestado e nunca mais devolveu. Merece ficar pra ele. Tem créditos infinitos comigo. Há alguns zines como MegaRock, NFL Zine, por aí vai, que são imortais, cara. Incrível. Pro bem ou pro mal. São publicados faz um tempasso. Duvido nego ir à galeria hoje e não encontrar um MegaRock ou mesmo um NFL lá. Méritos da mente por trás da produção em ambos os casos. A última coisa foda que li nesses zines dinossauros foi uma entrevista do VIOLATOR, DF Thrash City, contando sobre a tour infinita deles pela América do Sul. E não lembro onde exatemente, li uma entrevista do Claustrofobia sobre a tour européia.

Ricardo Tibiu, jornalista, barbudo, "nihilista hard rocker" e tomador de suco de laranja, um dos caras que mais respeito no hardcore, publicava um periódico de bolso de nome MUSICALL, qual já foge do contexto de fanzine, mas, ele deve ser um cara altamente indicado para falar de fanzines e jornalismo musical. Perca alguma banda no Hangar, conversando com ele sobre fanzines. Garantia de não arrependimento ou seu dinheiro de volta.

Muito do que aprendi no rock’ n roll devo a essas publicações. Muitos discos que ouvi educaram-me e fizeram deste o upgrade de quem nunca soube ser dentro de uma sociedade. Tenho respeito por cada um que um dia fez do Do It Yourself, menos teoria, mais prática. A palavra precisa, a expressão contra-cultural é uma forma de alterar um estado de coma social que ainda hoje temos como estabelecido. Talvez teremos sempre, mas, nunca nos daremos por vencidos. Como diria um amigo que postou um texto fodido abaixo; ZINAI-VOS!!!!


Eduardo Boqaa é o caçula da quadrilha. E está em fase de aprendizado. Ele ama essa sensação. Atualmente escreve no Dizputa, tem uma coluna no Valepunk.com e colabora pro Zonapunk. Além de trabalhar demais às vezes. E acha muito mala falar de si mesmo na terceira pessoa.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

DANILO E A MÁQUINA DE XEROX

Por Flávio Grão



Danilo sempre quis ter sua própria máquina de Xerox, mas nunca imaginou que isso custaria-lhe a própria bunda.

Ao contrário das outras crianças que queriam Autoramas ou bicicletas e gostavam do lago da cidade onde moravam, a nada notória Balneário Fantasma, Danilo preferia desenhar e adorou quando descobriu a possibilidade de duplicar seus próprios desenhos.

A paixão começou ainda no ginásio. Pedia dinheiro para sua mãe para xerocar mapas de Geografia e textos de história e levava secretamente (no meio dos trabalhos) desenhos toscos do Batman, caricaturas dos professores ou desenhos sanguinolentos que adorava fazer para impressionar seus colegas de classe.

Quando adolescente (como todos que não gostavam do lago de Balneário Fantasma) Danilo passou por uma fase introspectiva e se isolou em seu quarto acompanhado apenas de velhas fitas de punk rock que herdara de seu tio suicida.

Aquelas músicas pareciam ter sido feitas sob encomenda para aquela sua fase da vida. Perfeitos consolos e justificativa para toda a “tropicalidade” e “alegria” que não conseguia aceitar em Balneário Fantasma “...um dia você vai descobrir que todos te odeiam e te querem morto...”

A identificação com a cultura punk foi imediata. Um alívio descobrir que existiam outros que pensavam como ele. Passou a não se sentir o único de sua espécie na galáxia – poderia até se reproduzir se tivesse sorte.
À medida que o tempo avançava, as músicas e a cultura punk começaram a modificar não só a sua mente, mas também sua aparência. Quando entrou no ensino técnico foi ao barbeiro disposto a uma mudança radical: “quero estilo moicano”.
O barbeiro entendeu “estilo americano” e ele ganhou um corte parecido com o do cantor Arnaldo Antunes que contribuiu ainda mais para o seu isolamento na escola e comunidade.

A primeira vez que teve um fanzine nas mãos foi quando conheceu os punks em um festival de hardcore onde tocou a lendária banda Genocídio Suicida. Nesta época, Danilo utilizava uma vela de ignição pendurada no pescoço (alternativa barata ao cadeado de Sid Vicious) , uma espécie de protesto contra a indústria automobilística e o capitalismo. Não demorou para mudarem seu nome de Danilo para Punk Vela, ou Vela para os íntimos.

Assim que leu os primeiros fanzines virou fã incondicional desse veículo de comunicação que era a representação escrita do que acreditava. Em pouco tempo passou a colaborar via correio com vários deles. Não demorou para criar o seu próprio fanzine : o Vela Punk.

Danilo se formou no ensino médio e abandonou o corte americano. Agora era mais um trabalhador das raras indústrias que sobraram em Balneário Fantasma, mais precisamente no laboratório químico da Indústria de Sanitários Baunilha.

Com o passar dos anos tornou-se mais eclético e seu gosto estético pela cultura punk passou a abarcar também a chamada cultura alternativa (por favor, não hippie). Agora era colaborador assíduo de uma dúzia de fanzines dos mais variados temas: quadrinhos, música alternativa, punk, ecologia etc. Colaborava com resenhas, charges, quadrinhos e produções gráficas feitas a partir de colagens e xerox que tirava no escritório da firma escondido entre formulários e relatórios do controle de qualidade.
Era sempre uma aventura: Danilo chegava uma hora antes do expediente e ficava de ouvido atento ao portão da firma enquanto fazia suas montagens xerográficas.



Um dia algo de maravilhoso aconteceu.
Danilo estava finalizando uns relatórios na bancada do laboratório quando Evaristo (diretor da Sanitários Baunilha) entrou na sala acompanhado de um rapaz e apontou um canto da sala:
-É aqui que vai ficar.
O rapaz colocou uma caixa cuidadosamente em cima de uma mesa.
-É Danilo, chega do pessoal do laboratório ficar gastando a minha máquina de xerox tirando cópias dos relatórios... Agora o laboratório terá sua própria máquina!
Danilo ficou boquiaberto... Mal podia falar. Seu sonho havia se concretizado. Assistiu em câmera lenta o desembrulhar da máquina, sua instalação e a explicação de seu uso.

Uma semana depois o número um de seu fanzine novo estava pronto e com cinqüenta cópias quentinhas: Candle Days era seu nome.

Com o Candle Days, Danilo abandonou a linha panfletária/didática do Vela Punk e se embrenhou por uma mais autoral: textos, poemas, resenhas e ilustrações. O Candle Day conferiu certa identidade a Danilo que passou a ser reconhecido na cena como um jovem pensador e poeta anarquista. Distribuía seu fanzine gratuitamente em bares, shows, protestos e portas de faculdades.

Com o passar das semanas, Danilo começou a desenvolver uma fixação pela máquina que não demorou a tornar-se uma verdadeira paixão. Além das possibilidades práticas que a máquina oferecia, apreciava seu design moderno, seus botões coloridos, seu visor digital, a velocidade das cópias, suas regulagens de tonalidade, seu cheiro e é claro: a insubstituível sensação prazerosa de desembrulhar um toner novinho... Bons tempos.

A experimentação gráfica de Danilo começou a evoluir. Começou tirando Xerox da própria mão, depois da mão em movimento; mais tarde em um acesso de ousadia tirou uma cópia do próprio rosto (apesar de dizerem que a luz da máquina de xerox cegava). A capa do Candle Days número 2 era seu rosto xerocado em expressão de dor aterrorizante - agora com mais páginas e maior tiragem, patrocinado indiretamente pela Sanitários Baunilha.

A paixão se tornou um vicio: diariamente Danilo chegava pelo menos uma hora mais cedo para ficar a sós com seu objeto de desejo.

Um dia teve um insight ao ver a capa de um disco do cantor Tom Zé. A capa em questão (segundo a lenda) trazia a imagem de uma bolinha de gude delicadamente encaixada no ânus de uma modelo, de modo a parecer-se com um enigmático olho azul. Danilo teve uma idéia que pensou ser genial. Tirar uma fotocópia da própria bunda. É, seria ótimo! Poderia utilizar tal cópia como capa! Faria uma intervenção ou montagem no xerox para parecer outra coisa: uma montanha, um castelo... Seria um segredo como o de Tom Zé. Mal poderia esperar para colocar tal idéia em prática.
Chegou na quarta feira às cinco horas da manhã.

Entrou no laboratório afoito. Abaixou as calças e a cueca e subiu na máquina com cuidado de modo a apoiar a bunda sem forçar o vidro. Sentou-se e levantou os bagos para cima (eles atrapalhariam a composição e simetria da imagem). Apertou o botão: 10 cópias.

Sentia a máquina passando a luz suavemente, lendo sua bunda e gostou daquela sensação: quentinho, confortável. Porque não? 100 cópias.
A luz passando em suas nádegas era relaxante e confortável. Cochilou.

Acordou algum tempo depois. Suas nádegas estavam estranhamente quentes e adormecidas. Olhou o número de cópias no visor da máquina: dois mil novecentos e cinqüenta, dois mil novecentos e cinqüenta e um...
Pensou que era hora de sair de cima da máquina, mas não conseguiu.

Para seu horror sua bunda estava grudada na máquina. Percebeu que havia um leve cheiro de queimado na sala e um barulho de hambúrgueres fritando: sim, sua bunda estava sendo frita pela máquina que aquecera com o número elevado de cópias.
Notou então que as folhas já se espalhavam pelo chão com as reproduções de sua bunda e que tinha dormido mais do que pensava. Já era quase oito horas, horário em que o Diretor Evaristo chegava pontualmente na firma.

Tentou sair. Sua bunda estava grudada no vidro do Xerox, sentiu dor. Tentou sair de ladinho e também não conseguiu. Enquanto tentava sair, a velocidade das cópias aumentava e a luz (antes inocente) que passava por sua bunda atingiu uma velocidade estroboscópica mudando para um tom vermelho ameaçador.

As folhas eram cuspidas em alta velocidade na sala. Começou a suar e para piorar as coisas ouviu o barulho do carro de Evaristo chegando no estacionamento. Tomou então uma atitude extrema.

Pulou da máquina de xerox abruptamente e parte da sua bunda ficou grudada no vidro dela - nunca sentira tanta dor: perdera o topo das nádegas.
Olhou para o vidro da máquina de xerox: os pedaços de sua bunda estavam lá como exatamente dois hambúrgueres grudados em uma chapa de lanchonete mal untada.
O que restou de sua bunda sangrava e as folhas com fotocópias dela forravam o chão do laboratório...

Não teve tempo para pensar: pegou papel toalha e colocou no que sobrava de sua bunda esperando que estancasse o sangramento. Rapidamente começou a recolher os papéis no chão e colocou tudo em sua mochila para eliminar as provas.
A máquina continuava soltando cópias e não conseguia pará-la. Desconectou-a então da tomada.

Pegou uma espátula, raspou os restos de sua bunda que estavam no vidro da máquina e jogou tudo no lixo com muito sofrimento e pesar.
Nesse exato momento Evaristo subiu as escadas e Danilo disfarçou todo aquele absurdo da melhor forma que pode: apoiou-se sobre o balcão do laboratório e fingiu estar analisando relatórios de controle de qualidade.
- Bom dia Danilo! Madrugou de novo? Desse jeito você fica rico, heim?
Evaristo foi tomar café e Danilo ficou no laboratório tentando entender a gravidade do que acontecera.

Mais tarde, quando todos os funcionários chegaram ao laboratório o estagiário percebeu que a máquina ao ser ligada tirava cópias ininterruptamente. Ligaram para a manutenção que chegou no final da tarde.

Depois de muito analisar e arrumar o botão quebrado, o técnico do xerox chamou Evaristo e contou-lhe que o toner que tinha sido substituído no dia anterior já acabara.
Evaristo olhou para todos do laboratório como se procurasse algum culpado. Lembrou-se dos rumores de que os estagiários tiravam cópias de trabalhos da faculdade clandestinamente. Disparou em um acesso de autoritarismo:
-Sabe como é... Nessa porra de laboratório, xerocam tudo! Até o próprio cu! Vou tirar essa merda dessa máquina daqui amanhã mesmo.
Bateu a porta e saiu bufando pelas escadas.

Os funcionários do laboratório entreolharam-se e deram de ombros.
Danilo sentiu-se aliviado porém triste. Sua traquinagem passara desapercebida mas a máquina de xerox sairia do laboratório. E pior: sua bunda estava arruinada para sempre.

E foi assim: traumática e dolorida - como qualquer separação - o fim da paixão de Danilo pela máquina de xerox.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

OS AFOITOS MENINOS DA METRÓPOLE E SEUS VÍCIOS ZINÍSTICOS!


Por Zerbinato


- E aí, falta muito?
- Que nada, agora tá fácil, já terminei de escrever os textos e consegui umas figuras boas numas revistas.
- Ah, e por falar em figuras, tá aqui os desenhos que você me pediu.
- Putz meu, ficou do jeitinho que eu precisava, quer ver como vai caber certinho na página? É só deixar esse texto mais de lado.
- Vish, não vai caber não mano, e agora?
- Cabe sim, me dá a tesoura e a cola que eu monto em outra folha, aí já era.
- Nossa! Assim ficou louco.
- Porra mano, ainda bem que eu consegui usar a máquina de escrever lá do trampo, ia ser foda ter que fazer os textos tudo na mão, fica ruim de ler.
- Podicrê, assim na máquina ficou bem a pampa. Curti essas resenhas também.
- Só, se liga nessas bandas aqui, o pessoal me mandou umas fitinhas pelo correio depois da última edição.
- Da hora hein mano!
- Agora é só terminar de montar e já era.
- Vai fazer as xerox hoje à tarde?
- Nem vai rolar mano, mas eu já troquei idéia com um maluco lá do trampo, ele conhece uma copiadora que vai fazer por três centavos cada cópia.
- Nossa mano, de graça!
- Pois é, só preciso agora juntar mais uma graninha, hoje eu tive que fazer uns trampos pra lá de Santo Amaro, mas pedi carona e consegui a grana do busão. E amanhã tenho que voltar no mesmo lugar, e ainda fazer mais uns cartórios lá no ABC e depois entregar lá no Butantã, vou no mesmo esquema, de carona, ou então desço por trás mesmo, aí consigo uma graninha boa.
- Mano, que firmeza! Almoça lá na casa da minha tia, no ABC, assim você economiza mais uma grana e consegue mais xerox ainda!
- Aí sim hein, agora senti firmeza!
- Putz, não vejo a hora dessa parada ficar pronta.
- Podicrê! Mas aê, o que você vai fazer agora mano? Eu vou colar lá na xerox dum outro chegado, ele disse que se eu for lá esse horário, consegue fazer as xerox reduzidas na muquia, é bom que já economizo uma grana.
- Putz velho, eu to indo lá no Centro Cultural agora, tenho que fazer umas pesquisas pra entregar quinta-feira na escola.
- Ah mano, desencana, vamos lá na xerox comigo, aí amanhã já tá tudo pronto e eu vou com você no Centro Cultural, aliás, a gente já aproveita pra distribuir uns por ali mesmo.
- Porra, boa idéia, até porque amanhã vai rolar um som lá no Centro Cultural, aí já une o útil ao agradável.
- Firmou!
- Dá essa parada aqui, deixa eu ver como ficou.
- Se liga!
- Porra mano, muito foda! Essa parada de FANZINE é muito louca, acho que vou fazer um também.
- Faz sim mano, dá pra você colocar uns bagulho muito louco, ainda mais você que manja duns desenhos, se pãs você consegue até fazer um zine só de quadrinhos!
- Porra mano, que idéia firmeza, acho que vou fazer sim!
...
..
.
... As conversas eram mais ou menos assim, na correria do dia-a-dia de um Office Boy percorrendo as movimentadas e já congestionadas ruas de SP.
O tempo era diferente, ainda fazia frio no inverno e calor no verão que era sempre levado pelas águas de março.
Os textos dos zines eram feitos à mão, ou no máximo na máquina de escrever, os poucos computadores que existiam na época eram de difícil acesso e as únicas impressoras disponíveis eram as matriciais.
Internet? Nem se pensava em algo tão moderno naquela época.
Não havia CDs, os álbuns originais eram sempre em Vinil e nem todo mundo tinha grana para comprá-los, por isso as informações que se tinha sobre música vinham das seguintes formas: ou você tinha uma banda e mendigava um espaço num cenário muito precário e restrito, ou tinha amigos que tinham bandas, ou recebia fitas k7 muquiadas nas cartas via correio, ou então ia até a galeria do rock e comprava suas próprias fitinhas.
No meio disso tudo, a gente fazia muitas amizades verdadeiras, com gente que realmente gostava de música. O difícil acesso à informação criava um filtro natural, por onde somente aqueles que realmente gostavam é que tinham paciência de correr atrás das novidades e fazer um intercâmbio com amigos próximos e com outros zineiros de outras cidades, estados e países.
Quinze anos se passaram e muita coisa mudou, a tecnologia evoluiu enormemente e a internet facilitou muito a vida de todo mundo. Mas, se por um lado a internet facilita a comunicação, produção e divulgação, por outro ela criou também o surgimento de vários e vários “tipos” que só porque tem à sua disposição a tecnologia e tempo ocioso, acham que conhecem mais do que qualquer outro, e isso acabou gerando um jogo de egos e o surgimento de milhares de pseudo-movimentos de vanguarda... ah... como eram bons os velhos tempos...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DE FOLHA EM FOLHA, TANTA HISTÓRIA PRA CONTAR



Por Ricardo Idéia

Ao contrário da maioria das pessoas por aqui, minha experiência em fanzines é bem curta, quer dizer, pelo menos enquanto autor e/ou editor (e isso talvez fique mais claro com o tempo por aqui, afinal sou apenas um adolescente ao lado de grandes sábios do fanzinato!). Em compensação, tenho pós-graduação como leitor de zines!

Viciei nesse troço circa 90/91, muito por culpa de um zine chamado Panacea. A partir dali, um universo inteiro foi descoberto. Tinha fanzine de tudo e pra tudo. E também de todo jeito. Sobre música, cinema, literatura, cultura underground, feminista, zine de poesia, de HQ's, panfletários, de contos, xerocado, impresso, off set, papel jornal, sulfite, folha de caderno, batido a máquina, mimeografado, impresso em impressoras matriciais, feito a mão com esferográfica Bic mesmo, com fotos, colagens, desenhos, etc. Enfim, aqui comigo, são duas caixas de papelão (das grandes) cheias deles!!! Aliás, essa foi a última parte da minha mudança a chegar aqui em Pira, e pra falar verdade, isso aconteceu faz mais ou menos um mês.

Foi automático: assim que essas caixas chegaram, tratei de abri-las e fuçar nas coisas que tinham lá dentro. O saudosismo falou mais forte e acabei separando algumas edições de diversos zines para ler novamente.

Está aí um exercício bastante interessante. Alguém por aqui já parou pra pensar na importância histórica que cada folhinha xerocada daquelas tem?

Escolhendo uma porção abrangente em termos cronológicos, dá pra fazer uma bela análise de tudo que aconteceu no underground nesses últimos dezoito anos. Cada acerto, cada erro, o que evoluiu ou piorou, quem ficou ou decaiu, tudo isso lhe salta aos olhos de forma clara. Isso sem contar que tem muita coisa engraçada também, que vai desde cortes de cabelos, ou a ausência de um corte, passando por modas descartáveis, bandas descartáveis, bandeiras descartáveis, etc. E nesse meio ainda teve gente que lutou por causas incríveis e depois sucumbiu se tornando exatamente tudo àquilo que tanto bradou contra!

Não cabe a mim, nem mesmo nesse texto (até porque a parada aqui é temática) traçar um panorama e desenvolver uma tese sobre a cena underground brasileira, mas os fanzines fizeram isso por si só e guardam seus segredos e suas respostas dentro de uma caixa, gaveta, estante ou armário aí perto de você.

E essa é a real importância do zinismo, e a verdadeira missão do zineiro.

Registramos nossa história, catequizamos gerações e escrevemos o evangelho, que é muito daquilo que nós acreditamos e mais ainda do que nos tornamos!

Andarilhos do underground, zinai-vos*!


(ps: *contém sampler do Zambetti!)

domingo, 19 de outubro de 2008

MADE IN ITABAIANA

Foto: Adelvan Barbosa numa foto bem recente, tirada há uns 20 dias, na Usina Hidrelétrica de Xingó, na fronteira entre Alagoas e Sergipe, no Rio São Francisco.

Por Marcelo Viegas

Quando o tema “Fanzines” foi escolhido para inaugurar as atividades aqui do blog, eu pensei: posso muito bem falar da minha experiência de fanzineiro, contar histórias e mais histórias... Mas isso seria muito pessoal (e previsível), e o grande barato dos fanzines sempre foi falar das coisas legais que nós gostávamos e mais ninguém divulgava. Decidi, então, falar de outrem.

Assim, apresento-lhes o ilustre Adelvan Barbosa, editor do extinto fanzine Escarro Napalm. Nascido em Itabaiana (SE), uma cidadezinha de 80 mil habitantes a 52 km de Aracaju, Adelvan é uma figura rara, dotada de um senso de humor inato e contagiante. Profundo conhecedor das manifestações do underground, possui um gosto variado, de Sonic Youth à Slayer, passando por Pato Fu, DFC e Gangrena Gasosa. Fã ardoroso de Star Wars e Marquês de Sade, Adelvan sempre batalhou para movimentar a pacata cena sergipana. O Escarro Napalm durou de 1991 a 1995, com “7 edições, mais uma mega-edição especial delirante chamada ‘Delirium’”, diz.

Mas o espírito fanzineiro permanece, impregnado, subcutâneo, e o cabra-macho de 37 anos segue colaborando com a fomentação da cena local com seu programa de rádio, ao lado do amigo Fabinho, da banda Snooze. Troquei uma idéia com o Adelvan - que não perde sua tradicional marca de começar todas frases com um “rapaz” (proferido com sua voz fiiiina) – sobre suas memórias fanzineiras e alguns outros assuntos. Confira logo abaixo


ZINISMO: Você nasceu em Itabaiana (SE). Quando mudou pra capital Aracaju?
ADELVAN: Em Aracaju desde 1989. Lembro bem porque foi na época da primeira eleição pra presidente.

ZINISMO: De que ano a que ano editou o Escarro Napalm?
ADELVAN: O Escarro Napalm foi de 1991 a 1995. Mas houve um precursor, que eu editei em 1988 e 1989, em Itabaiana mesmo, chamava-se Napalm.

ZINISMO: Qual a explicação do nome Escarro Napalm?
ADELVAN: Rapaz, é uma viagem meio de roqueiro de primeira viagem adolescente revoltado. O primeiro se chamava Napalm em homenagem à casa noturna que tinha aí em São Paulo. E porque eu acho o nome forte, essa bomba aí é muito louca, né? Espalha gasolina... Aí eu fiz um informativo e pra diferenciar chamei de Escarro Napalm, porque não era o zine em si, era tipo uma cusparada flamejante (risos). Aí quando fui fazer um novo zine adotei esse nome. Muita gente achava que, pelo nome, o zine só falava de grindcore ou coisas do tipo, se surpreendiam quando pegavam.

ZINISMO: E do que falava o Escarro?
ADELVAN: Rapaz, era bem aberto. O universo do rock independente era uma constante, mas rolavam também matérias com o assunto que me viesse à telha. Mas o tema central era o rock mesmo, fiz inclusive alguns perfis de bandas daqui, como Karne Krua e Camboja.


ZINISMO: Quais as melhores demo-tapes que passaram pelo zine?
ADELVAN: Eu não resenhava tapes. Pelo menos não numa seção assim específica, mencionava sempre a banda como um todo num resumão que eu fazia no meio do fanzine. Mas lembro de algumas demos que me impressionaram muito e eu devo ter comentado no zine: A primeira demo dos Cabeloduro, a primeira do DFC, uma com a capa colorida do Living in the Shit de Maceió, “Psicose” do Concreteness, as demos do GDE, do RS, a primeira demo do Pato Fu... A demo do Snooze também foi bem marcante.

ZINISMO: E as melhores capas de demos?
ADELVAN: Rapaz, acho que a galera não caprichava muito nas capas não, e os recursos não ajudavam, Xerox tosca e tal. Não lembro nenhuma especialmente marcante – aliás, lembrei: uma do Eddie, de Olinda, com o desenho de uma invasão de moscas, muito boa. Tinha uma da Karne Krua que era muito boa também, com um desenho estilizado de uma mulher gritando.

ZINISMO: Você lembra matérias em fanzines que tenham te marcado?
ADELVAN: Uma entrevista com Zenilton feita pelo zine Cabrunco. O Papakapika teve muita coisa boa, mas não lembro especificamente de uma. Na verdade não me vêm à memória matérias em si, mas os zines de forma geral. Eu lia tudo, tinha uma paciência na época que hoje não teria não. Lia desde os mais legais e elaborados até os mais toscos e panfletários.

ZINISMO: E as capas dos fanzines? De quais você gostava?
ADELVAN: Lembro que as capas feitas pelo Yuri Hermuche (hoje na banda Firefriend), de Brasília, pelo Weaver, de Fortaleza, por Ricardo Borges e Joacy Jamys, do Maranhão, pelo Alberto Monteiro, do Rio, por Henry Jaepelt, de Santa Catarina, pelo Law e Claudio MSN, do RS, eram sempre muito boas.

ZINISMO: Lembra de cidades inusitadas pra onde enviou o Escarro?
ADELVAN: Alguma cidade lá do extremo norte, acho que Porto Velho e Rio Branco. Às vezes rolavam umas correspondências do interiorzão, mas era bem difícil. Tanto que nem lembro qual... A esmagadora maioria vinha de São Paulo mesmo.

ZINISMO: Tem acompanhado os fanzines da atualidade?
ADELVAN: Estou absolutamente por fora de fanzines atuais, não conheço praticamente nenhum.


ZINISMO: Quais bandas gostaria de ter entrevistado no Escarro?
ADELVAN: Pô, as que eu era fã mesmo na época e eram acessíveis entrevistei – tipo Pato Fu, DFC e Gangrena Gasosa. Gostaria de ter tido contato com o Second Come, me amarrava. Eddie tinha contato, mas nunca entrevistei, deveria ter feito. OsCabeloduro também.


ZINISMO: Vamos falar um pouco da sua banda, o 120 dias de Sodoma, que é lendária na cena nordestina. Muitas histórias de shows polêmicos, nudez e coisas bizarras em geral. Qual história foi mais marcante, no seu ponto de vista?
ADELVAN: Rapaz, um show nosso que tem trechos no Youtube foi bem legal, pois rolou um impacto. Só tinha bandas indie meio deprê na noite, a organização colocou a gente pra "esculhambar" mesmo, e conseguiu. No final todo mundo se divertiu, ao que parece. Inclusive um bêbado que fez umas participações com uma gaita horrível o show inteiro e no final fez um strip tease. Assistam até o fim e verão esse momento sui-generis na historia do rock sergipano.

ZINISMO: Como você definiria 120 dias de Sodoma para quem nunca ouviu?
ADELVAN: Bizarro. Também horrível, para alguns, ou divertido, para outros. Depende do senso de humor ou do estado de espírito de quem vê.

ZINISMO: Apesar de não fazer mais fanzine, você tem um programa de rádio, junto com o Fabinho Snoozer. Como tem rolado esse lance do programa?
ADELVAN: Tem sido muito legal. A proposta do programa é a mais ampla possível, indo dos clássicos ao underground do underground, do indie rock ao splatter gore death black metal. E fazemos entrevistas com bandas e personalidades (como produtores de shows) da cena local, ou que estejam de passagem pela cidade. Inclusive conseguimos uma repercussão nacional, pois fomos indicados ao premio Dynamite, coisa que não esperava, pois concentramos a divulgação do programa aqui dentro do estado mesmo. Há inclusive o convite para que se transforme num programa de TV, a ser transmitido pela emissora pública local, via Fundação Aperipê

ZINISMO: Momento alta fidelidade: os 5 melhores zines brasileiros de todos os tempos.
ADELVAN: Masturbação, Iogurte e Rock and Roll, de Fortaleza; Cabrunco, de Aracaju; Papakapika, de Curitiba; Panacea, de SP; Anti-Usual, do Rio de Janeiro; e Kri$e – do Maranhão (menção honrosa, hehehe).

ZINISMO: 5 melhores bandas que descobriu em zines.
ADELVAN: Concreteness (SP), Eddie (PE), OsCabeloduro (DF), Second Come (RJ) e Gangrena Gasosa (RJ).

ZINISMO: 5 amigos que deve aos fanzines.
ADELVAN: Rapaz, aí vai ser foda escolher cinco. Vou falar os que eu tinha mais contato mesmo, alguns deles são meus amigos do peito até hoje: Fellipe CDC do DF; Oscar F. de Goiânia; Ronaldo Chorão do RJ (esse tá inclusive aqui em casa nesse momento, passando as férias); Marcos de Oliveira Ferreira, do Rio; e Marly do No Sense, de Santos.

ZINISMO: O que é insubstituível num fanzine impresso? E o que era chato pra caralho?
ADELVAN: O manuseio do papel é sempre legal. É mais legal ler em papel que na tela - muito embora ler matérias curtas (ou não muito longas) seja bastante viável via computador, o que não dá é pra ler um livro inteiro, a meu ver. O que era chato é que às vezes fanzines muito bons vinham em cópias xerox muito ruins, o que diminuía o impacto do trabalho. E a trabalheira que dava pra grampear, dobrar, envelopar e remeter, muito embora eu fizesse com prazer, pela empolgação de estar produzindo, participando de algo, muito provavelmente.









sábado, 18 de outubro de 2008

TANCREDO NEVES, PUNK ROCK E UM JORNALZINHO QUASE SUBVERSIVO.



Por Edu Zambetti


Um usava camisetas sobrepostas com tons desbotados, button do Dead Kennedys, calça devidamente apertada e tênis Forward cano alto. O outro, pesando uns 40 kg, parecia uma miniatura do Joey Ramone acrescido de óculos fundo de garrafa e aparelho ortodôntico. Sem dúvida alguma, eram dois nerdunks (nerd com punk) e estavam decidindo, em plena aula de química, qual deveria ser o nome do jornalzinho subversivo que começariam a produzir. Seria o primeiro fanzine da história daquele colégio.

1985 era o ano, 1º B era a sala, Grong Bong (G.B.) foi o nome escolhido naquele início de abril, semanas antes da morte de Tancredo Neves. O conteúdo girava em torno de acontecimentos do colégio, punk rock, new wave, heavy metal, leve pornografia e quadrinhos. Desenho por desenho, letra por letra, tudo canalizado através das pontas das lapiseiras 0.7 sobre folhas de rascunho, com arte final totalmente em pena e nanquim.O processo criativo era, sempre que possível, “aditivado” com sabe-se lá qual substância numa espécie de brainstorm contínuo.

No G.B. número 69 (na verdade seria a primeira edição, mas veio com o 69 na capa. Piadinha típica de garotos com 15 anos de idade) surgiu o Kid Nikotina e é aí que está o foco deste relato: o personagem, no estilo “Psychobilly Sujão”, ao longo da história ia se transformando em um tétrico esqueleto enquanto fumava um cigarro atrás do outro. Sob seu comando, nenhuma empreitada dava certo. “Tem king size?”, era seu bordão. Paralelamente, cada vez que seus amigos (punks, skins, lésbicas) usavam outras substâncias mais pesadas, passavam por aventuras estonteantemente psicodélicas. Sempre olhavam para o Kid e diziam: “Nossa cara! Você está emagrecendo! Precisa dumas ‘Vitaminas’”.
Acontece que a história acabou parando na mão da Maria Helena (toda assistente de direção tem o mesmo nome, concordam?) e logo estavam os dois punks (na visão dela), ou melhor, nerds (na visão dos colegas de classe), encurralados na escadaria próxima à sala dos professores...
...Antes de continuar, vou logo adiantando que houve suborno e repressão.

Ela chegou calma, mas com um olhar mais sério do que peçonhento, tecendo um discurso que, por mais que tentassem, os dois zineiros de primeira viagem não conseguiam identificar se estavam recebendo elogios ou críticas. Com um ritmo de blues e ousando despejar algumas gírias no meio da conversa, a dona Maria Helena forçou a barra:

- Garotos... Super legal este trabalho de vocês! Os professores já me disseram que virou mania na escola. Os seus pais sabem que vocês são tão criativos assim?

Tentaram responder, mas foram atropelados pela fala constante.

- Este Kid é uma lição para os nossos alunos (disse isto chacoalhando uma cópia do fanzine com fervor). Por coincidência a direção da escola junto com a APM está lançando uma campanha interna contra o tabagismo, sabe como é meninos... Aqui no período da manhã não é muito, mas os marmanjos da noite acham que podem fumar em qualquer dependência sem a menor cerimônia.

Os dois ainda não estavam entendendo... E o blá blá blá em ritmo de blues continuava.

- A direção falou comigo e eu mesma falei com a APM e chegamos à conclusão que vocês podem nos ajudar muito se fizerem uns cartazes usando o seu personagem nesta campanha. Olha só: Vocês terão a oportunidade de espalhar seus desenhos pela escola toda, sem restrição. Fiquem tranqüilos porque a APM vai fornecer todo o material que os dois precisarem para a criação dos cartazes. Ah! Mas usem só este que fuma e vai virando caveirinha... Não usem os outros personagens punks porque foge completamente do intuito da campanha e, com certeza, seus pais não vão gostar de ver os filhos fazendo apologia às drogas. Não é mesmo? Vocês podem substituí-los por uns garotos loirinhos e bem comportados. Tudo bem pra vocês?

O mini Joey Ramone e o outro nerdunk bem que tentaram explicar que não, não e não. Não fariam de forma alguma, pois a idéia era produzir aquele fanzine de qualquer maneira. Arriscaram a desculpa de não terem tempo livre para isto, afinal, um fazia aula de inglês e o outro de natação, sem contar que nos finais de semana cada um ensaiava com sua banda.

Depois disto, o Blues em ritmo de fala da assistente ganhou um pouco de overdrive e o solo se evidenciou...

- Prestem bastante atenção! Andei olhando suas notas e percebi que, se continuarem como estão, terão problemas no final do ano. Estou pensando em chamar seus pais aqui para tratarmos do assunto e, aproveitando, mostraria para eles este jornalzinho... Nossa! Como tem palavrão aqui! Seria triste ver garotos tão criativos repetindo o primeiro ano. Se vocês fizerem estes cartazes, sem dúvida alguma o conselho será muito compreensivo na hora de analisarem as médias finais e, neste caso, nem precisaremos chamar seus pais agora. Mas não comentem com ninguém. Se quiserem, posso falar com a professora de artes para orientá-los neste trabalho.O que acham?

Sentiram ferver a alma punk que costumavam descarregar todo final de semana nos toques desafinados de suas guitarras (os vizinhos que o digam), perceberam a repressão resistindo ainda em meados dos anos 80... Lembraram das aulas de filosofia e até de Geraldo Vandré... Elaboraram o melhor discurso revolucionário que poderiam conseguir naquela fração de segundos... Olharam e se entreolharam... Apertaram, com as mãos úmidas, aquelas folhas xerocadas... Maria Helena acabara de virar sinônimo de demônio capitalista... Cuspir na sua cara seria uma boa? Rir e vomitar “Anarchy In The UK” seria a solução? Os dois sentiram o impulso contestador borbulhando o sangue de suas veias...

- Então meninos... Quando vocês entregam os cartazes?

- No final da semana que vem, Dona Maria Helena.

- Jura? Sem falta?

- Sem falta... Dona Maria Helena.

- Mas os dois são uns anjinhos mesmo!!! Depois quero conversar com vocês sobre o Dia do Índio.


(obs: Eu não era o mini Ramone)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

18 A 24 DE OUTUBRO - PRIMEIRA SEMANA TEMÁTICA ZINISMO: FANZINES


Tá dado o recado.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

QUEBRANDO A SIDRA


Todos nós sempre estivemos juntos de certa forma.
Não é de se admirar que eu conheça todos que participam deste blog, ou que todos de certa forma se conheçam de modo direto ou indireto.
O Underground é assim, todos de certa forma se conhecem. Se existe aquela teoria de que há seis graus de separação entre quaisquer pessoas no mundo, no Underground isso cai para uma ou no máximo duas pessoas.
Todos os convocados iniciais deste blog atendem a este perfil, nossos caminhos culturais, artísticos e pessoais costuram-se durante anos e por vezes décadas.

O Viegas, eu conheço desde a quinta série, fizemos um jornal underground ainda no ginásio, depois freqüentamos o mesmo curso de desenho, depois editamos o Fanzine The Answer, ele participou também do “Histórias para Ler no Banheiro” (zine de contos que teve breve vida), e tocamos juntos numa banda chamada Chocolate Diesel. Ele é meu padrinho de casamento e grande amigo. Hoje, ele dedica-se fulltime ao ofício de redator da revista CemporcentoSKATEe é vocalista da banda ästerdon.

O Carlos Consumido também é meu padrinho de casamento, tocamos juntos em algumas bandas, nos conhecemos há mais de dez anos quando ele tocava guitarra na banda de meus irmãos. Aliás, parece que temos uma banda que está em “pause” até que nossos cotidianos permitam um ensaio. Ele também escreveu no “Histórias para Ler no Banheiro” e tornou-se cunhado do Viegas.

A Graciene escreve todo dia, só que a parada é mais séria: processos trabalhistas. No meio de seu atribulado cotidiano de advogada, às vezes sobra tempo para destilar uma poesia. Ela atua como um dos contra-pesos feminino nesse time de marmanjos “zínicos”...

A Adriana Alves também foi nossa vizinha (minha, do Viegas e do Carlos Consumido). Figura presente nos shows, festas e baladas, teve sempre uma ligação com os fanzines. Lembro-me de certa vez em que ela me entregou um pequeno zine, que fizera "por debaixo dos panos" em um dos seus trabalhos, em tempo absurdamente recorde. Depois surpreendeu-nos com sua força, quando por conta própria montou um misto de fanzine/jornal de bairro periódico. Seu próximo passo foi trabalhar na Revista da MTV, onde era responsável pelo caderno SUB – espécie de fanzine dentro da revista. Hoje em dia é repórter da Rolling Stone Brasil.

O (Eduardo) Zambetti estudou com o Viegas na faculdade e depois foi professor de um ex-companheiro de banda meu. Fez parte de várias bandas: Síndrome de Down, Sapo Banjo, Slush Gods e atualmente Mura 20. Grande agitador cultural, também pinta quadros, escreve em blogs, tem um programa de Ska na rádio e ainda arruma tempo pra bancar o professor pardal... Grande figura!

O Zerbinato eu conheci por uma ex-namorada, que eu acho que também foi ex-namorada dele... Fazia zines punks que se destacavam pela qualidade absurda da escrita. Também é um companheiro que esbarrava em baladas e tinha um jeito peculiar de abrir os vinhos, colocando-os entre os calcanhares do coturno e puxando o saca-rolhas. Também tem um blog e agora mora longe, se não me engano (afinal ele é meio nômade) em Tocantins.

O Idéia também mudou para outra cidade, Piracicaba. Já tocou comigo e com o Viegas no Chocolate Diesel, e atualmente toca também no ästerdon. Começou há algum tempo seu próprio blog, já escreveu um texto no “Histórias para Ler no Banheiro”, é DJ, viciado em LOST e tem munição para conversas de horas e horas; seja sobre música, teorias da conspiração, filmes, livros ou receitas de lasanha com fandangos. No meu casamento ele foi sem roupa social: disse que era para dar sorte, porque nas vezes em que ele foi a casórios trajado a rigor, os casamentos não duraram. Acho que ele tinha um pouco de razão...

O Eduardo Bokaa também tem um blog, um selo e gritava na banda de rock FOMI - que ele fala que não existe mais. É figura onipresente que pode ser encontrado nos lugares mais inusitados, como sorveterias, verduradas, shows punk, restaurantes vegetarianos, baladas esfumaçadas de reggae, botecos do centro ou na galeria do rock. O que é o Bokaa? Rastafari? Vegetariano? Fã de Bad Brains ou Bukowski? Ninguém sabe. Se souber conta pro cara porque ele está procurando a resposta! Atualmente ele escreve (assim como eu e o Viegas) para o fanzine Dizputa.

Mas o principal, o que faz de nós um grupo, é aquele comichão, aquele que faz alguém escrever uma música, um texto, fazer um desenho, a necessidade de criar... Ainda mais necessária em dias onde tudo tende a tornar-se pasteurizado, formatado... Onde as informações são manipuladas e induzem nossos caminhos. Manifestar-se de modo independente é um grande exercício de liberdade, sempre - e se pudermos turbinar essa prática com inovações tecnológicas, seria uma maravilha, não seria?

Sinto-me quebrando uma garrafa no casco de um navio. Agora só o vento saberá que caminho ele irá seguir, quem serão os novos marujos e até quem será o comandante. Espero que ele navegue por muito tempo, que não naufrague, mas que haja motins, senão não haverá graça nenhuma.

E como já ouvi por aí... “se não há portas... porque não criá-las?”
Boa sorte e muito trabalho para nós!

Flávio Grão.

PS: O ZINISMO entra no ar após uma discussão que envolveu a troca de mais de cem e-mails.
As postagens serão livres com exceção das semanas temáticas acordadas previamente.
O primeiro tema que seguirá este texto será FANZINES. Apropriado não?